
Não era isso que pretendíamos. Na nossa “santa ingenuidade”, achávamos na altura que se conseguíssemos trazer o nosso caso à opinião pública, e se fosse discutido pelos órgãos responsáveis, conseguiríamos de alguma forma fazer com que a TAP assumisse a responsabilidade para com os trabalhadores de uma empresa sua afiliada.
O que é verdade, é que desesperados pelo fim da AIA e com o objectivo de mediatizar a nossa situação, surgiu um facto que com alguma sorte, poderia dar os seus frutos.
Havia uma lei dirigida aos trabalhadores abrangidos por processos de despedimento colectivo, como era o nosso caso, que lhes permitia em dois dias da semana, ir à procura de trabalho. Ou seja, o trabalhador podia, sem ser necessário avisar a empresa, dispôr de dois dias para tentar resolver a sua situação laboral.
O Futebol Clube do Porto encontrava-se em prova na Taça dos Campeões Europeus na época 1992/1993.
Em Abril de 1993, este clube fretou um avião à AIA para a equipa se deslocar a Milão para se defrontar com o AC Milan.
Misturando os dois dados, nada melhor em Portugal para chamar a atenção, do que bulir de alguma forma com o futebol... Assim, depois de nos aconselharmos com o Dr. Cadima Ribeiro – advogado à época do SNPVAC – acabámos por propôr que no dia do voo do FCP para Milão, os tripulantes de cabine fossem à procura de emprego, sem avisar a empresa!... Embora nem todos os intervenientes nos voos estivessem pelos ajustes para se colocarem a jeito para uma pega de caras, aconselhados pelo Dr. Cadima lá se chegou ao acordo de se levar isto por diante.
A logística foi pensada e depois de um dia a tratar dos preparativos alguém teria de ir à Póvoa de Varzim buscar os tripulantes que supostamente no dia seguinte fariam o voo para Milão. Ofereci-me eu para tratar deste pormenor e ao fim da tarde, lá fiz o percurso de Fiat Uno 55, até ao Hotel Vermar.
Chegado lá, uma contrariedade - embora o Hélder Fernando e o Gonçalo Paes estivessem prontos para ser trazidos para Lisboa, ninguém se lembrou ou sabia que a chefe de cabine Doroteia e a Lídia eram eventuais e não poderiam socorrer-se desta lei que apenas abrangia trabalhadores efectivos. Tanto a Doroteia como a Lígia estavam ao serviço da Air Atlantis desde a abertura da base do Funchal, mas estavam ainda a contrato!
Mesmo assim, trouxe o Hélder e o Gonçalo para Lisboa. O voo não se faria só com dois tripulantes de cabine.
Durante o dia, procurávamos ansiosamente o resultado desta aventura, até que uma notícia gelou as esperanças: o voo tinha saído com algum atraso. Como? A AIA (TAP) solucionou este imbróglio chamando duas tripulantes da TAP que estavam de estadia no Porto!
Conclusão: Mais do que nunca a ténue fronteira que separava a operação da AIA da operação da TAP esfumava-se.
Infelizmente nunca este facto foi devidamente aproveitado no decorrer do processo no Tribunal de Trabalho de Lisboa.