
Já no tempo dos romanos na Peninsula Ibérica, um general enviou uma mensagem ao Imperador a falar de um povo lá na longínqua Lusitânia não se sabia governar, nem se deixava governar.
Quem gosta de história de Portugal, constata facilmente que apesar de no início dos Descobrimentos, se ter vivido um período de franca expansão económica e de domínio dos mares e terras, a falta de coragem e visão depressa remeteu novamente Portugal para o plano secundário que desde a sua fundação, ocupou na história mundial, servindo interesses de nações mais poderosas, líderes internacionais desde sempre, como por exemplo a Inglaterra - Um exemplo muito simples da subserviência, é a troca de vinho do Porto por tecidos de fraquíssima qualidade (trapos), assim que os ingleses passaram a conhecer a qualidade da bebida.
Preferiu-se gastar a riqueza gerada pelos Descobrimentos em inconsequente ostentação e opulência, cujo acesso iria ser muito restrito e apenas a alguns da nobreza e clero, preterindo a qualidade de vida do povo, não se procedendo a uma distribuição de riqueza mais justa. Nem tão pouco, houve uma estratégia de investimento em frotas, que permitissem defender os longínquos territórios entretanto conquistados.
Ou seja, Portugal foi sempre um país em crise. A crise económica sempre esteve bem presente, sentida então, tal como hoje, muito mais por quem trabalha, do que pelos que vivem dos impostos e deles se governam despudoradamente.
A história de Portugal, tirando a época do início dos Descobrimentos, faz-se erros recorrentes. De repetições de asneiras. As crónicas de grandes escritores como Bordalo Pinheiro, Eça ou Guerra Junqueiro acerca da classe política do século XIX é desconcertantemente actual:
'Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas...' Guerra Junqueiro, escrito em 1886
A solução está no acordar de um povo que historicamente permitiu tudo a quem sempre se governou em Portugal. Por herança de mentalidades, por falta de visão ou de coragem. Para não afrontar os poderes instituídos. O preço tem sido alto, mas parece não importar. A “cauda da Europa” é um termo corriqueiro quando se refer a estatísticas nacionais comparadas com congéneres europeias - É um destino, um fado, um desígnio nacional, ao qual parece ser impossível escapar, e pior, perfeitamente aceite pelos portugueses.
É pena que os portugueses se abstenham de ser cidadãos activos e empenhados na mudança de mentalidades. Que deixem andar. Que não se interessem a não ser que o tema seja futebol – aí o caso muda um pouco de figura. Não interessa que a justiça, a saúde, a educação, a economia, a corrupção, estejam no estado a que chegaram. Não existe indignação. Estará quase tudo anestesiado? Sofrerão os portugueses de algum tipo de cegueira, ou de insensibilidade que lhes provoque uma falta imensa de amor próprio?
A grande parte que se absteve nas últimas legislativas, diz que “não está para dar de comer aos que para lá querem ir...“ O problema, é que não só os que para lá querem ir, vão, como permitem que outros escolham por si, e pelo que se tem visto com uma qualidade no mínimo questionável. Há também os que se “apoucam” – os que dizem que só por si não conseguem mudar o mundo. Concerteza nunca terão ouvido falar de Ghandi, Martin Luther King, Nelson Mandela, Xanana Gusmão, Aristides Sousa Mendes, Salgueiro Maia. Estes, antes de serem conhecidos, tinham uma centelha que lhes permitiu criarem explosões de mudança. Nasceu neles, não se acomodaram, não se conformaram, agiram de acordo com a sua consciência, moveram montanhas.
Quando os portugueses despertarem, pode ser que este país seja motivo de orgulho para os que irão nascer. Devemos isso ás gerações futuras, assim o queiramos.
Um bom Natal a todos!